Bolo Souza Leão
Sábado, 20 de janeiro de 2007, 07h58
Lecticia Cavalcanti
É o mais tradicional dos bolos pernambucanos. Hoje também muito apreciado em todas as regiões do Brasil. Fruto dessa rebeldia que esteve presente, sempre, em todos os nossos movimentos sociais. Na nossa culinária, também. Tudo começou com Dona Rita de Cássia Souza Leão Bezerra Cavalcanti, casada com o coronel Agostinho Bezerra da Silva Cavalcanti - senhor do engenho São Bartolomeu, no povoado de Muribeca, município de Jaboatão dos Guararapes.
Em um gesto de compromisso com sua terra, decidiu não usar mais nada que viesse de Portugal. Os ingredientes europeus de suas receitas foram então sendo substituídos por sabores da terra. Trigo, pela massa de mandioca. Manteiga francesa "Le Pelletier", por manteiga feita na própria cozinha. "Bagaceira", também.
Essa aguardente portuguesa de uva, tomada sempre antes das refeições, acabou substituída por nossa cachaça - feita do caldo da primeira fervura da cana moída nos próprios engenhos. Com o tempo, foi essa cachaça inclusive elevada a símbolo de resistência à dominação portuguesa. Bebida de patriotas.
Dona Rita, segundo registros, era exímia cozinheira. Dela, muitas receitas tornaram-se famosas. Como a do "Bolo São Bartolomeu" - que usa a mesma base do Souza Leão (massa de mandioca, leite de coco, ovos e açúcar), acrescido de canela, erva doce e castanha.
Além, claro, daquele que será sempre lembrado, o "Bolo Souza Leão". Esses bolos foram, inclusive, oferecidos a D. Pedro II, D. Tereza Cristina e toda a sua comitiva - quando, em 1859, esteve a família real em Pernambuco.
Bom lembrar que o primeiro membro da família Souza Leão, aqui desembarcado, foi Domingos dos Santos Coelho Souza de Lyon. Um descendente de franceses da região da Borgonha. O sobrenome Leão, adotado no Brasil, é corruptela desse "Lyon".
A Pernambuco chegou em 1756, com 19 anos, vindo de Lisboa para tomar posse de uma sesmaria - recebida por ter se arriscado em guerras, na defesa de Portugal. Instalou-se no engenho Jenipapo (a 230 km do Recife), numa casa de 16 cômodos - com muitos quartos e salas, capela e senzala.
Como todas as casas-grandes de todos os engenhos de Pernambuco, naquela fase da opulência econômica do açúcar - entre os séculos XVI e XVII. Casou com uma brasileira, deixou 15 filhos conhecidos e propriedades muitas. Cada ramo da família acredita ter a verdadeira receita original do famoso bolo. Seja como for, e em qualquer dessas receitas, é presença obrigatória em todas as mesas pernambucanas.
RECEITA
Bolo Souza Leão
Ingredientes:
- 18 gemas;
- 6 xícaras de leite de coco puro;
- 1 kg de açúcar;
- 1 kg de massa de mandioca;
- 2 colheres de sopa de manteiga;
- Sal a gosto.
Preparo:
- Com açúcar, faça uma calda em ponto de fio;
- Junte a manteiga e depois as gemas;
- Acrescente a massa lavada, espremida e peneirada. E, por fim, leite de coco e sal a gosto;
- Passe toda a mistura em peneira muito fina, várias vezes;
- Coloque em fôrma untada com manteiga e forrada com papel impermeável, também untado. Asse em forno regular.
Lectícia Cavalcanti coordena o caderno Sabores da Folha de Pernambuco, escreve na Revista Continente Multicultural e no site pe.360graus.
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